A Cadeira de Rodas mais Barata

14 de janeiro de 2018 - Inspiração e Reflexão

Autor: Janet Kinosian

Ainda sonolento, o engenheiro mecânico Don Schoendorfer, da Califórnia, pisou no cimento frio do chão da garagem de sua casa às 4 horas da manhã. Determinado a criar a cadeira de rodas mais barata do mundo, acordava de madrugada e, antes de ir para o trabalho, passava três horas todos os dias labutando em uma mesa de trabalho montada na sua abarrotada garagem. Primeiro ele tentou uma cadeira com um assento convencional de lona, mas riscou-a da lista por ser cara demais. Sabia que precisava de algo barato e durável, praticamente indestrutível. A cadeira deveria ser capaz de atravessar montanhas, pântanos e desertos, de suportar calor e frio com um mínimo de manutenção. Schoendorfer sabia que muitas pessoas no mundo viviam com menos de dois dólares por dia e não poderiam sequer sonhar em comprar uma cadeira de rodas que custasse centenas ou até milhares de dólares. Finalmente ele descobriu o que precisava: a tradicional cadeira branca de plástico para jardins. Don vasculhou liquidações e comprou cadeiras aos montes por três dólares a unidade. A seguir, percorreu corredores de lojas e supermercados em busca de pneus de bicicleta mais baratos e de parafusos com a melhor relação custo-benefício. Durante toda essa busca, ele se lembrava da estrada no Marrocos por onde tinha passado quase 30 anos antes. Em 1977, ele e sua esposa, Laurie, no sufocante calor da tarde, em Tétouan, viram uma mulher inválida arrastando-se pela estrada, quase como uma cobra, usando as unhas para se deslocar. Naquele país, os deficientes físicos eram considerados inferiores aos mendigos e tratados com supremo desprezo. Na estrada empoeirada do Marrocos, Schoendorfer decidiu ajudar.

Agora, enquanto colocava dois pneus de bicicleta na cadeira e soldava ro-dinhas de metal preto e suportes, o engenheiro formado pelo MIT sentiu as coisas se encaixando. Ao girar a simples cadeira, pensou: “Talvez seja exatamente isso.”

Você venceu Don — o pastor da igreja de Schoendorfer declarou quando viu a pequena cadeira branca. Em nove meses, ele tinha construído 100 cadeiras de rodas e sua garagem parecia um centro de reabilitação protética. O pastor sugeriu que ele levasse as cadeiras para uma próxima missão médica da igreja na Índia. Mas quando Don foi à primeira reunião de planejamento os missionários do grupo não ficaram muito impressionados.

– Quanto você acha que o transporte dessas cadeiras irá custar? – um deles perguntou. Apesar de deprimido e desanimado, Schoendorfer continuou comparecendo às reuniões. “Acho que eles imaginavam que se ignorassem aquele homem esquisito ele iria desistir”, ele recorda com um sorriso. Por fim, concordaram em deixá-lo levar quatro cadeiras para a Índia. Numa abarrotada enfermaria nos arredores de Chennai, Don viu um pai carregando o filho inválido de 11 anos. “Esse é o momento” pensou. Correu ao encontro dos dois com uma cadeira.

Assim que o menino, Emmanuel, se sentou, Don soube que sua invenção tinha algum poder de cura. O jovem parecia surpreso e encantado. A mãe disse, traduzindo as palavras do filho:

– Deus abençoe você por essa carroça.

Quando Don voltou para casa, a empresa onde ele trabalhava faliu. Decidiu então sustentar-se com a fabricação de cadeiras. O dinheiro começou a escassear, e Laurie foi trabalhar na Social Security Administration. Desde aquela primeira doação, a ONG de Schoendorfer, Free Wheelchair Mission (Missão de Cadeiras de Rodas Gratuitas), já entregou gratuitamente mais de 63.000 cadeiras a pessoas que desejavam desesperadamente deslocar-se. No próximo ano, a missão planeja doar mais 100.000.

Atualmente, as cadeiras são produzidas em duas fabricas chinesas e podem ser entregues em qualquer lugar do mundo por apenas 42 dólares. Elas já foram enviadas para 45 países, entre os quais o Iraque. Com mais de 100 milhões de inválidos pobres vivendo em países em desenvolvimento, Schoendorfer sabe que seu trabalho está longe do fim.

– Tenho uma pequena meta – ele diz calmamente por trás de seu vasto bigode. – Vinte milhões de cadeiras entregues gratuitamente até 2010.

A cada viagem para entregar mais cadeiras, o inventor vê o efeito da sua invenção na vida das pessoas. Indra, de Chennai, nunca tinha ido à escola, mas agora estuda para ser arquiteto. Uma jovem mãe angolana que teve as pernas arrancadas por uma mina terrestre hoje cuida de seus filhos pequenos. Um indiano de Cochin contou aos voluntários que rezou diariamente durante 52 anos para que alguém fosse bom para ele. Aquela cadeira foi a primeira manifestação de bondade em sua vida. Os voluntários sempre fotografam as pessoas que manobram suas recém- adquiridas cadeiras pela primeira vez.

– É como se fosse o dia do casamento ou da formatura delas – conta Schoendorfer. – Sem sombra de dúvida, aquela é a data mais importante de suas vidas, pois marca o momento em que recebem de volta sua dignidade.

Don Schoendorfer, provavelmente, nunca alcançará a fama que muitas outras pessoas alcançam, muitas vezes com menos mérito. Mas ele alimentou seu desejo de ajudar os outros durante 30 anos e finalmente pôde concretizar seu sonho. Tomando a iniciativa, começou na garagem de sua casa um movimento que chegou às fábricas da China e supriu de cadeiras de rodas pessoas necessitadas no mundo inteiro. Seus olhos agora estão voltados para a sua meta de 20 milhões de cadeiras. Se ele continuar a mostrar o mesmo grau de iniciativa, certamente conseguirá.

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