O Princípio da Atenção

15 de janeiro de 2018 - Inspiração e Reflexão

“O maior presente que você pode dar a uma pessoa é a pureza da sua atenção.” Richard Moss

Se alguém lhe pedisse para apontar as cinco pessoas que maior influência exerceram na sua vida, qual seria sua resposta? Embora eu, evidentemente, não conheça sua resposta, posso lhe assegurar que na sua relação de nomes não existiriam atores famosos, grandes cientistas ou políticos, alguém que tenha ganhado algum prêmio famoso como o Oscar, o Nobel ou qualquer outro. Também não constariam dela campeões olímpicos, misses, modelos ou esportistas famosos. Nem tampouco, grandes executivos e empresários, pessoas relacionadas entre as mais elegantes ou as mais ricas. Provavelmente, consta da sua lista algum familiar direto, como sua mãe, seu pai, um tio; um grande professor que contribuiu para sua formação; um amigo que em algum momento de sua vida lhe fez sentir como uma pessoa especial; seu cônjuge, com o qual você construiu e divide sua vida; ou alguma pessoa que lhe ajudou quando atravessava uma situação difícil.

Esta situação é comum com a maioria das pessoas e decorre do fato que quem deixa as marcas mais importantes na nossa vida não são, necessariamente, aquelas pessoas que são mais valorizadas e reconhecidas socialmente e sim aqueles que, de fato, em algum momento especial, se importaram conosco e nos valorizaram, que nos ajudaram em qualquer sentido, que cuidaram de nos quando precisávamos, que nos consolaram quando necessitávamos; que nos aconselharam num momento decisivo, que nos ouviram sem interrupções ou críticas; em fim, aquelas que, mesmo por um instante, nos fizeram sentir que éramos importantes.

É precisamente disto que trata o Princípio da Atenção. Refere-se à importância de dar atenção às pessoas que estão próximas de nós, seja na família, no nosso círculo de amizades, na nossa comunidade, no nosso emprego ou em qualquer outro grupo profissional ou social do qual fazemos parte.

Dar atenção não significa, necessariamente, resolver os problemas das pessoas; muitas vezes, consiste em apenas ouvi-las e procurar compreendê-las, o que para nós pode ser insignificante, porém, para quem recebe nossa atenção é de vital importância, porque a leitura que ela faz deste simples ato é que ela é importante e que alguém se importa e se preocupa com ela como ser humano, independente de qualquer outra conotação ou condição. Em geral, as pessoas querem muito mais atenção para o que dizem do que para o atendimento de suas reivindicações.

Por esta razão, uma importante qualidade que devemos sempre aperfeiçoar para podermos praticar de forma adequada o Princípio da Atenção, é a nossa capacidade de ouvir os outros. Por incrível que pareça, muitas pessoas apresentam sérias deficiências no que se refere a esta capacidade. Ouvir não é sinônimo de escutar. Significa entender, de fato, o que outras pessoas tentam nos comunicar; nos interessar pelo que ela tem a dizer; significa compreender suas circunstâncias, mesmo que você não concorde com o que está sendo dito; sem interrupções e sem a preocupação de preparar uma resposta imediata.

James C. Hunter afirma que pensamos quatro vezes mais rápido do que falamos. Isto gera muito ruído interno em nossas mentes. Ele nos diz que “saber ouvir requer um esforço consciente e disciplinado para silenciar toda a conversação interna enquanto ouvimos outra pessoa. Isto exige sacrifício, uma doação de nós mesmos para bloquear o mais possível o ruído interno e, de fato, entrar no mundo da outra pessoa. Aquele que sabe ouvir tenta ver as coisas como quem fala as vê e sentir as coisas como quem fala as sente”.

Ralph Roughton por sua vez, é o autor de um excelente texto que ilustra de forma extremamente apropriada a importância de saber ouvir. Diz ele:

“Quando lhe peço para ouvir e você começa a dar conselhos, você não faz o que estou pedindo.

Quando lhe peço que me ouça e você começa a me dizer por que eu não deveria me sentir assim, você está pisando nos meus sentimentos.

Quando lhe peço que me escute e você pensa que tem que fazer alguma coisa para resolver meu problema, você me desaponta, por mais estranho que possa parecer.

Escute! Tudo o que pedi foi que você me ouvisse; não que falasse ou fizesse – ouça-me apenas… eu posso fazer. Não sou incapaz. Talvez desanimado e vacilante, mas não incapaz.

Quando você faz por mim algo que eu posso e preciso fazer sozinho, você contribui para meu medo e meu sentimento de inadequação.

Mas quando você aceita como um fato que eu sinto o que estou sentindo, por mais irracional, então posso deixar de tentar convencer você e posso entender o que está por trás desse sentimento irracional.

E quando isso fica claro, a resposta é óbvia e eu não preciso de conselhos”.

Conforme afirmou Leo Buscaglia “Muito frequentemente, nós subestimamos o poder do carinho, de um sorriso, uma palavra amável, um ombro amigo, dar ouvidos, um elogio honesto, ou o menor ato de dedicação, pois todos têm o poder de transformar uma vida”.

No entanto, apesar da simplicidade do ato de dar atenção aos outros, é com frequência que a rotina e a correria do dia-a-dia nos faz esquecer de praticar este princípio e acabamos desperdiçando esta grande oportunidade de contribuir para o bem-estar das pessoas com as quais nos relacionamos. Muito mais triste, ainda, é constatar que, muitas das vezes, deixamos de dar atenção às pessoas que estão mais próximas de nós – os membros da nossa família – ou às pessoas mais humildes – a nossa empregada doméstica, a faxineira, o vigilante da nossa rua, o porteiro do nosso prédio, a copeira da escola dos nossos filhos, o garçom do restaurante que costumamos frequentar – que, provavelmente, sejam as que mais precisem que alguém as faça sentir importantes, nem que seja por apenas um instante.

O texto escrito por JoAnn C. Jones ilustra com maestria este último aspecto. Diz ela “Durante meu segundo ano da escola de enfermagem, nosso professor nos deu um teste. Eu passei direto através das questões até ler a última: Qual o primeiro nome da faxineira que limpa a escola? Isto era certamente uma piada. Eu tinha visto a faxineira várias vezes, mas como iria saber o nome dela? Eu entreguei minha folha deixando a última questão em branco. Antes da aula terminar, um aluno perguntou se a última questão valeria para a nota. Com certeza, o professor disse. Nas suas carreiras, vocês vão encontrar muitas pessoas – todas elas são significativas. Elas merecem sua atenção e cuidado. Ainda se tudo o que você faz é sorrir e dizer olá. Eu nunca esqueci essa lição. Eu também aprendi que o nome dela era Dorothy.”

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