O Construtor de Pontes

15 de janeiro de 2018 - Inspiração e Reflexão

Toni Ruttimann dedica sua vida a ajudar os outros
Por Robert Kiener

Com uma chave inglesa de 25 cm numa das mãos e equilibrando-se a 20 metros de altura em pleno ar, no alto de uma ponte suspensa construída pela metade no oeste de Mianmar, Toni Ruttimann está feliz por fazer o que gosta. Esse notável construtor de pontes autodidata, em vários países conhecido apenas como “O construtor de pontes”, está ajudando aldeões a erguer uma delas, com 105 metros de comprimento, acima do lamacento Rio Daga.

O sol brilha forte sobre o suíço de 47 anos, que limpa o suor da testa e se move rapidamente ao longo dos cabos de suspensão metálicos da ponte, numa estreita tábua de 2,5 metros de comprimento, apertando grampo após grampo à medida que a estrutura ganha forma. Ao mesmo tempo, muitos aldeões, que vêm trabalhando nas últimas semanas para ajudar na construção, carregam e aparafusam as chapas xadrezes de aço de 2 metros de comprimento que formarão o piso da ponte.

A cada chapa colocada e a cada cabo e grampo fixados, a ponte se aproxima mais da conclusão. Em breve, os moradores da remota vila de Nyaung Pin Seik não dependerão mais de uma balsa decrépita e cara para cruzar o rio. As crianças poderão ir à escola com mais segurança, os doentes vão chegar às clínicas mais depressa e os fazendeiros poderão transportar mais produtos para a cidade em bicicletas, carroças e até em motocicletas.

“Sonhamos com essa ponte há dez anos”, diz U Soe, o chefe da aldeia, enquanto observa o trabalho de Ruttimann e dos aldeões. “Ela vai mudar nossas vidas.”

Mudar vidas construindo pontes é o que Toni Ruttimann tem feito nos últimos 27 anos. Inspirado por relatos dos estragos causados por um terremoto no Equador em 1987, ele jurou “fazer alguma coisa”. Depois de recolher doações em Pontresina, sua cidade natal na suíça, foi para o Equador em busca de uma forma de ajudar. Na época com 20 anos, descobriu aldeões que haviam ficado isolados depois de perderem sua ponte. Esticando ao máximo a pequena quantia que trouxera da Suíça e com a ajuda de um engenheiro holandês, construiu com os aldeões sua primeira ponte em cinco meses. Encontrara o trabalho de sua vida.

Numa jornada de um homem só para “servir as pessoas pelo mundo”, ele dedica sua vida a construir pontes para pedestres em países desde Honduras até Camboja e Indonésia. Desde que iniciou sua forma única de ajuda humanitária, ele e uma equipe de soldadores dedicados ergueram mais de 660 pontes para pedestres, de 30 a 264 metros de comprimento, para atender 2 milhões de pessoas. Atualmente dividindo-se entre Mianmar e Indonésia, ele e sua equipe vão construir 15 pontes em cada país este ano. Somente em Mianmar já ergueram 80 ao todo.

Pela Internet, ele também orienta a construção de outras 15 pontes no Equador e na América do Sul, com seu colega equatoriano Walter Yánez.

Algumas das pontes que Ruttimann constrói substituem as que foram destruídas ou se deterioraram, mas a maioria se encontra em locais onde nunca houve uma antes. “Buscamos nós mesmos os locais ou os aldeões vêm nos pedir a ponte”, diz ele.

Ruttimann exerce suas atividades de maneira discreta. Aceita apenas pequenas doações de pessoas físicas, a maioria de seu país de origem. Estabeleceu uma relação duradoura com a siderúrgica Tenaris, que contribuiu com tubos de aço suficientes para construir cerca de cem pontes, e com operadores de teleféricos, que doaram impressionantes 370 km de cabos provenientes de estações suíças de esqui. Os aldeões fornecem a mão de obra e compram o cimento (de 200 a 500 sacos), a areia e o cascalho necessários para as fundações da ponte.

Nenhum dos doadores de Ruttimann pede reconhecimento em troca dos materiais. “Eles concordam comigo que estamos fazendo isso pelas pessoas”, diz Toni.

Ele raramente dá entrevistas e recusa prêmios com frequência. “Meu objetivo não é ganhar prêmios”, afirma. “Construir pontes propaga o amor e o trabalho em equipe.”

Por princípio e para manter os custos baixos, Ruttimann viaja da forma mais econômica possível. Em vez de alugar um carro, passou cinco horas dentro de um ônibus lotado saindo de Rangum e em seguida viajou na garupa de uma motocicleta até o local de construção da ponte. Hospeda-se numa pensão modesta, que tem apenas um banheiro compartilhado e um balde de água fria para “tomar banho”.

Ruttimann está sempre em movimento, procurando e construindo pontes, coordenando carregamentos e gerenciando uma pequena equipe de soldadores e ajudantes. Indagado onde fica seu escritório, ele ri e mostra uma pequena mochila que contém um laptop, uma câmera digital e um celular. Sua casa? “É bem aqui”, diz ele, pegando outra mochila com mudas de roupa, sapatos e uma gravata.

Apesar de sua reputação ter se alastrado por toda a Ásia e outros lugares, muitas vezes Toni leva algum tempo para explicar sua filosofia. Por exemplo, depois de contar a um ministro de Mianmar sobre como constrói pontes de graça desde os 19 anos e dizer que queria continuar no país, o ministro perguntou:

– Degraça: Diga a verdade. Por que faz isso?

– Vejo o sofrimento das pessoas que precisam de uma ponte e sei como ajudá-las – explicou. – E nasci para ser um construtor de pontes. Por último, é porque quero muito fazer isso.

Ruttimann não só conseguiu permissão para trabalhar em Mianmar como o governo o ajudou com as licenças para a importação de canos e cabos, e forneceu locais para reunir e armazenar materiais.

O último parafuso é apertado e vários aldeões dão os primeiros passos hesitantes pela ponte sobre o Rio Daga. “Veja o sorriso no rosto dessas pessoas enquanto atravessam a nova ponte”, diz ele. “Este é um trabalho de amor”.

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